Santo Inácio de Loyola
(31 de Julho)
Fundador da Companhia de Jesus (Ordem dos Jesuítas)

Inácio, filho de nobre família da província de Guipuzcoa, na Espanha,
nasceu em 1491 (ou 1496) no vale do Orola, pouco distante de Azpeitia,
no Castelo Loyola o qual, em sua forma característica e, em estado de
completa conservação, constitui a parte interior do atual convento. De
porte elegante, adestrado em todos os exercícios eqüestres, era Inácio
em sua mocidade, o tipo acabado do cavaleiro fidalgo espanhol, valente,
espirituoso, dado ao jogo, à poesia, às aventuras de armas e de amor.
Jovem militar, estava em serviço de Juan Velásquez, tesoureiro-mor da
corte real da Espanha; tomou parte na campanha contra Francisco I, da
França, o qual cuidando dos interesses dos herdeiros de João d’Albret de
Navarra, de mão armada invadira território espanhol. No combate de
defesa da cidade de Pamplona contra os franceses, em 20 de maio de1521,
uma bala de canhão atingiu-lhe a tíbia da perna direita. No longo
tratamento, a que teve de se sujeitar, levado pela leitura da Paixão de
Cristo e da vida dos santos, começou a fazer sérias comparações entre a
vida dedicada ao mundo e o serviço de Deus e movido pela graça, chegou a
tomar a firme resolução de trocar a carreira militar por uma vida toda
de Deus. No santuário de Nossa Senhora de Montserrat deu o passo
decisivo, disse adeus ao mundo, pendurou sua espada no altar e
desapareceu para a sociedade. Desde então, foi levar uma vida austera de
eremita e mendigo, com todas as práticas da mais severa penitência, e
isto não tanto na intenção de reparar as suas faltas, mas, e
principalmente, no nobre intuito de a exemplo dos santos, para a Deus,
seu supremo Senhor, dar prova da sua irrestrita vassalagem e dedicação e
nela constantemente se exercitar. Na solidão de Manresa, em meio das
privações, ânsias, angústias, consolações e arrebatamentos da vida
eremita mostra que já era espiritual, em 1522 traçou as linhas gerais do
seu célebre livro de exercícios, reflexo direto das suas experiências
na vida interior, protótipo da sua fundação monástica, livro que em
seguida se tornou verdadeiro código da ascese cristã em todo o mundo.
No ano de 1523 o amor ao divino Salvador, cujos mistérios
principalmente o ocuparam em Manresa, bem como o desejo de sumir do
mundo e se exercitar na confiança em Deus fê-lo resolver-se a uma
peregrinação a Jerusalém . De volta para a Espanha, contando já trinta
anos de idade, com admirável firmeza, imperturbável constância, sofrendo
grandes privações e perseguições, entregou-se ao estudo das línguas
clássicas, da filosofia e teologia em Saragoça, Alcalá, Salamanca e
Paris. Foi em Paris, onde se lhe associaram os primeiros seis
companheiros, que sob sua direção fizeram os exercícios espirituais, e
com ele lançaram o fundamento da Companhia de Jesus, em 15 de agosto de
1534. Por um santo voto se obrigaram a uma peregrinação aos Santos
Lugares da Palestina. Motivos imperiosos tornaram impraticável a romaria
e assim, em 1538 todos se reuniram em Roma, onde foi elaborado o
primeiro plano das Constituições. Em 1540, aos 27 de setembro, a Regra
teve sua primeira aprovação pelo Papa Paulo II, e Inácio, foi eleito
general da Companhia de Jesus (1541). Estabelecida que se achava a
Ordem, a vida de Inácio entrou em uma nova fase. Superior geral de uma
nova família de religiosos, sua tarefa era velar pela fiel observância
da regra, e trabalhar pelo aperfeiçoamento das constituições. Enquanto
seus religiosos, animados do seu espírito, trabalharam pela expansão do
reino de Deus na Itália, na França, na Espanha, na Alemanha, na Polônia,
na Índia e na África, ele deixou-se ficar em Roma, dando forma mais
perfeita à regra, e dedicando-se à formação espiritual dos jovens
candidatos e futuros superiores. Ao mesmo tempo se manteve sempre em
contato com as fundações, dirigiu-se pela sua vigilância, pela
correspondência e oração, conservando em tudo e sempre bem vivo o
interesse pela prosperidade da Igreja Universal. Em Roma fundou
estabelecimentos pela conversão dos judeus, orfanatos, casas de refúgio
para donzelas desamparadas, e o Colégio germânico. Muito de perto
acompanhou um empreendimento dos príncipes cristãos contra os turcos, e
muito trabalhou pelo sucesso do Concílio de Trento.
Sua obra
principal foi à fundação da Companhia de Jesus. Esta Ordem, no conceito
de Inácio devia realizar a mais estreita união à pessoa de Cristo, à sua
missão e ao seu modo de vida para assim reproduzir a imagem perfeita do
Salvador e do seu espírito. O supremo ideal do Homem-Deus era sempre a
glória de Deus na felicidade e na salvação da humanidade pela fundação
de um grande reino de Deus, no qual todos os homens, a ele ligados,
pudessem achar sua salvação. Este reino é a Igreja. Ela é a obra de
Cristo, na sua Igreja ele depositou sua doutrina, os meios de salvação e
seu poder administrativo. A Igreja foi fundada para os homens e sobre
os homens. Implantar a doutrina de Cristo nos corações, estabelecer o
seu reinado nas almas pela imitação perfeita do divino salvador, eis o
ideal que Inácio se propôs: eis a finalidade e a missão que Inácio deu à
sua Ordem. Os meios para obter tão elevado fim haviam de ser os mesmos
que Cristo empregou quanto à sua própria pessoa, como sejam a pobreza, o
desprendimento, trabalho e sofrimento e os outros, aplicáveis ao
próximo: a pregação, a recepção dos sacramentos, o ensino; em uma
palavra todos os recursos de que o sacerdócio católico dispõe para
engrandecer o reino de Cristo nas almas dos fiéis. Como se vê,
larguíssima é a base sobre a qual descansa a estrutura da Ordem de
Inácio. É uma Ordem apostólica, que outra finalidade não conhece senão
trabalhar pelo reino de Deus, sempre em íntima união ao Supremo Chefe da
Igreja, a cujas ordens vota irrestrita obediência. É uma Ordem de
Clérigos Regulares, cuja missão consiste principalmente no desempenho do
ministério sacerdotal. As constituições concedem-lhes um raio mais
amplo de atividade, mais desembaraço de ação. Nas constituições não
figura a recitação em comum do ofício divino; os religiosos da Companhia
não são presos a uma cura d’almas local ou a quaisquer ocupações
secundárias cerceantes. À sua Ordem Sant’Inácio deu o nome
venerabilíssimo de Jesus.
Entre os trabalhos silenciosos e
múltiplos, na orientação da Companhia veio visitá-lo a morte. Informado
do seu próximo passamento, nada disse. Só pediu a bênção apostólica e
morreu quase sem testemunhas, tendo sobre os lábios o nome de Jesus. Sua
morte ocorreu em 31 de julho de 1556. Canonizado foi pelo Papa Gregório
XV aos 12 de março de 1622.
Porém, das virtudes que caracterizam
a santidade de Inácio, se destacam estas três: a prudência, a humildade
e a firmeza na execução dos planos uma vez concebidos.
De tudo
que de Inácio se sabe, dos seus escritos, no seu modo de agir, ressalta
em primeiro lugar seu tino prático no governo das coisas, seu talento
extraordinário de organização, a superioridade de espírito e seu poder
sugestivo. A primeira comunidade por ele formada compunha-se de talentos
de escol e de caracteres firmes e decididos. Todos se sujeitavam, à
soberania espiritual do seu mestre, não porque este fosse um fantasista
de atração irresistível; - Inácio não era nada menos que um visionário
fanático – mas por reconhecerem a sua superioridade intelectual, sua
prudência e vasta experiência em cousas espirituais. Viam nele, e como
tal o veneravam, o Santo, o homem de Deus favorecido por luzes
sobrenaturais, o homem que se governava pelo princípio: não querer
acomodar os homens e as cousas a si, mas se acomodar a eles.
As
suas aspirações não se estendiam a coisas inacessíveis. Preferia sempre o
seguro ao incerto, o interesse comum ao bem particular. O testemunho
mais brilhante da sua prudência sobrenatural como da sua superioridade
espiritual são as constituições da sua Ordem, obra sua exclusiva e
autenticamente pessoal. Elas perfeitamente se adaptaram a todas
necessidades da Igreja, do tempo e do mundo; dão largas à magnanimidade
humana influenciada pela graça sem prejudicar o bem-estar individual;
tomam em conta todas as dificuldades e perigos, e os meios do progresso
espiritual acham-se admiravelmente organizados. São uma verdadeira obra
prima de prudência legisladora e clarividência de espírito; a expressão
de uma lógica natural e inflexível, em perfeita coordenação ao fim
colimado. O Papa Paulo III, dando-lhe a primeira aprovação, chamou a
regra inaciana obra do “dedo de Deus”, isto é, do Espírito Santo.
Sem humildade são quiméricas a verdadeira grandeza espiritual e
santidade. A humildade, é, pois, outro traço característico no perfil de
Santo Inácio. Que era obra de Deus a fundação da Companhia, de cuja
organização ele servira de instrumento, era sua convicção íntima. Se é
que isto enchia de alegria, se os progressos da sua Ordem lhe
proporcionavam grande contentamento, nem por isso tolerava que deste se
fizesse alarde, e não permitia que se fizesse comparações de outras
Ordens com a Companhia, diminuindo o valor daquelas. Sua é a afirmação
de que havia muitos anos não ter experimentado tentação contra a
humildade. De favores extraordinários celestiais que teve, nenhum
conhecimento deu aos seus Religiosos; todas as anotações relativas a
essas graças, ele as fez desaparecer, fora alguns papéizinhos que lhe
escaparam. Com relutância aceitou o cargo de Superior Geral, e por
diversas vezes pediu, dele fosse desobrigado.
A terceira virtude
que em Santo Inácio observamos e admiramos é a sua firmeza na execução
dos planos uma vez concebidos e traçados. Como verdadeiro arauto da
glória de Deus, não conhecia dificuldade e empecilhos; quando se tratava
dos interesses do seu Supremo Senhor, da Igreja ou do bem das almas.
Obstáculos, decepções, perigos e perseguições como era natural, que não
lhe faltassem, eram por Inácio considerados meios para alcançar seus
fins. Em causas de suma importância não se desdenhava de esperar
quatorze horas na ante-sala de um Grande. Pouco antes da sua morte
escapou-lhe a confissão de não poder se lembrar de nos últimos trinta
anos ter perdido ocasião, de fazer alguma cousa no serviço de Deus.
Inseparavelmente unida a esta sua firmeza e energia se achava uma
confiança inabalável na Divina Providência.
Certamente a
atividade e o modo de exercer o seu apostolado nada de agradável
continha para os inimigos de Deus e de sua Igreja. É bem explicável,
pois, a malquerença, a antipatia que em determinados círculos se formou
contra Inácio e a Companhia por ele, fundada. Em o Santo fundador dos
Jesuítas não há nada de fanático, de sorumbático; pelo contrário: Inácio
era de uma amabilidade cativante e de uma serenidade encantadora. Era
bondoso, atencioso, meigo e paternal no tratamento dos seus
companheiros, carinhoso e compassivo para com os doentes e padecentes;
de uma delicadeza extraordinária para os que se lhe abriam em suas
tentações, lutas e dificuldades; de uma paciência e generosidade
admiráveis para com os seus perseguidores, e de uma gratidão edificante e
comovedora aos benfeitores.
Fonte e coroa destas virtudes foram
seu imenso respeito e amor a Deus e à pessoa do divino Salvador. “Divina
Majestade” é a intitulação predileta que dá a Deus. Inácio era
conhecido como padre, que quando falava de Deus, sempre elevava o olhar
ao céu. A audição de um canto, a invocação do nome de Jesus, o aspecto
de uma flor, a contemplação do céu estrelado comoviam-no até às lágrimas
e transportavam-no em êxtase. Tão freqüentes e tão abundantes lhe eram
torrentes de lágrimas, que chegaram a comprometer a vista, circunstância
que motivou a dispensa que obteve da recitação do breviário. Centenas
de vezes se encontra nas suas prescrições de superior e jaculatória:
“Tudo pela maior glória de Deus”.
Era esta a grande mas também a
única idéia de Santo Inácio, que ele queria ver viva em todos os seus
Religiosos. O que deles exige, não são orações em demasia, nem
mortificações exteriores exageradas, mas tanto mais trabalho, trabalho
onímodo, incessante, trabalho até o esgotamento, até à morte. Trabalhar
em todas as zonas, em todos os setores da vida sacerdotal, pela maior
honra de Deus e pela salvação das almas é o espírito distintivo e a
força motriz da sua Ordem. A obediência é subordinada a este espírito, e
como segura reguladora se efetua na vida ativa da Companhia.
“Ide, incendiai o mundo no amor de Deus e das almas”, era a palavra, que dirigia aos missionários na sua despedida.
Estes poucos traços da vida do fundador da Companhia de Jesus dão-nos
uma idéia do seu caráter, da mentalidade e Santidade do grande homem o
qual, dono de tão eminentes virtudes, se impõe à nossa admiração com o
direito, que como Santo lhe assiste, a nossa irrestrita e sincera
veneração.
Incalculáveis são os serviços que Santo Inácio e sua
fundação à Igreja Católica tem prestado numa época, em que a sociedade
do século 16, em detrimento da Religião, do Estado e da humanidade
entendeu de romper com a ideologia católica e, deixando-se levar pelos
ditames de irrefreado egoísmo e de um prurido incontido de liberdade em
todos os ramos da vida humana, da religião, da política, da ciência,
rumava para funestos fins. Penosamente, apoiada por poucos elementos
dedicados e bons, a Igreja ressalvava os valores verdadeiros e
intangíveis da humanidade. Um destes elementos era Santo Inácio. Ele e
sua Ordem valiosamente concorreram pela salvação desses grandes valores
da humanidade, da religião, da moralidade, das ciências e artes.
Santo Inácio honrou a nossa santa religião. Nesta religião se formou, se
santificou. À Santa Igreja deu uma Ordem, verdadeira milícia de Cristo,
exército de propaganda da santa fé. Com esta sua Ordem veio a ser para
Cristo e sua Igreja o conquistador de vastos domínios em todos os
continentes do orbe, ficando assim compensada de alguma triste apostasia
dos países nórdicos europeus.
Santo Inácio tornou-se assim
grande benfeitor da humanidade. Muitas nações devem a ele e aos
religiosos da Companhia de Jesus sua integridade religiosa no meio dos
estragos da revolução protestante, ou então, como o Brasil, a sua
formação desde o princípio, genuinamente católica.
A Companhia de
Jesus é uma das Ordens mais numerosas da Igreja Católica, com diversos
de seus membros beatificados, outros tantos bem-aventurados e, entre
estes e aqueles, 134 mártires.
Reflexões:
Na vida de Santo Inácio há muita coisa que nos pode servir de estímulo e de edificação. Vejamos alguns pontos apenas:
1. A conversão e santificação de Santo Inácio foi resultado da leitura
de livros religiosos. Grande é o bem que um bom livro produz, como
incalculáveis são as conseqüências da leitura de um livro mau. A
perdição de muita gente teve início com a leitura de uma obra perversa.
Muitos outros se conservaram bons ou voltaram ao bom caminho devido à
influência benéfica da boa leitura que fizeram. Daí tira a conclusão e
formula teus propósitos.
2. Só um interesse inspirou a vida de
Santo Inácio: o da glória de Deus e da salvação das almas. A este
interesse sacrificou e subordinou tudo. É próprio dos Santos fazer
sempre e em tudo o que Deus quer, pospondo-lhe os interesses próprios.
Fazer só o indispensavelmente necessário, com algum cuidado de evitar o
pecado mortal, é característico dos tíbios. É mais perfeito procurar
sempre o agrado de Deus e dirigir todos os atos à glória de Deus e à
salvação da alma.
3. Santo Inácio era chamado o homem que está
sempre em colóquio com Deus e vê o céu aberto. É claro: Do que o coração
está cheio, a boca transborda. Os olhos procuram o que mais lhes
agrada. De que natureza são tuas conversas ? Qual é o objeto de teu
amor, de tuas aspirações ? Que é, a que mais se prendem teus pensamentos
?
4. A Santo Inácio eram muito correntes as palavras: “Vence-te a
ti próprio !” A vida do Servo de Deus, desde o tempo da conversão, foi a
fiel interpretação deste lema. Vencendo-se a si, tornou-se um grande
Santo. O “vencer-se a si próprio” deve ser o programa de todos que
pretendem chegar à perfeição. O mundo é um vale de lágrimas e misérias,
porque o primeiro homem não se soube vencer. O inferno está cheio de
homens que lá estão, porque não se souberam vencer. O céu regurgita de
Santos, que devem a glória ao combate contínuo, que sustentaram contra a
natureza. – “Vence-te a ti próprio” e terás garantida a tua salvação.
“Não há outro caminho para a santidade senão o da abnegação e da
mortificação. Anima-te, pois ! Começa resolutamente ! Uma única
mortificação, feita com decisão, é mais agradável a Deus que praticar
muitas boas obras”.
Fonte: Página Oriente
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