(24 de Janeiro)
São Francisco, o grande apóstolo do seu tempo, modelo perfeito de santidade, protótipo de Bispo e sacerdote, nasceu em 1567, no castelo de Sales, próximo a Aneci, na Savoia. Os pais eram e alta nobreza e muito religiosos. Antes do nascimento do filho já o tinham consagrado a Deus. A mãe, Francisca, pedira a Deus que antes a privasse do prazer de ser mãe, do que permitir que desse à luz uma criança que tivesse a infelicidade de ser um inimigo do seu Criador.
A condessa velou com o máximo cuidado pela educação do filho, que, apesar do nascimento prematuro e da constituição fraquíssima, se desenvolveu admiravelmente.
O menino ia com ela à igreja, e pela palavra e exemplo, implantou ela no coração do filhinho profundo respeito à casa de Deus, amor à oração e ao culto divino. Freqüentemente lhe fazia uma leitura da vida dos Santos, condimentando-a com instruções adequadas. Francisco devia acompanhá-la até nas visitas que fazia aos pobres e doentes e era ele quem dava as esmolas aos necessitados.
Com uma docilidade admirável o menino aceitou as medidas educativas da mãe. De tenra idade ainda, já era amigo da oração, sincero no falar e agir, e compassivo com os que sofrem.
Tendo chegado o tempo do menino entregar-se aos estudos houve divergência entre os pais. Enquanto a mãe, receosa de expor o filho a perigos espirituais, opinava dever ministrar-lhe o ensino em casa, e para este fim tratar professores particulares, o conde era de opinião que Francisco devia fazer os estudos num colégio no meio de companheiros da mesma idade. Bem sabia que o estímulo muito favorece o progresso nas ciências. Tendo seis anos, Francisco freqüentou o colégio de Rocheville, e mais tarde o de Aneci. Os professores ficaram admirados do talento privilegiado do aluno. No meio dos trabalhos escolares, Francisco não se esquecia das práticas religiosas. Oração e leitura espiritual eram-lhe companheiros inseparáveis.
Bastante preparado nas matérias propedêuticas, era da vontade do pai, que Francisco seguisse para Paris, com o fim de completar os estudos.
Diante da separação do filho, a condessa redobrou de esforços para confirmá-lo na prática das virtudes. Mais do que nunca lhe recomendou o amor de Deus, a oração, a fuga do pecado e das más ocasiões. Muitas vezes lhe dizia: “Meu filho, prefiro ver-te morto a saber um dia que cometeste um pecado mortal”.
Em companhia de um sacerdote, a quem o cuidado paternal o tinha confiado, foi Francisco para a Capital. Algum tempo estudou retórica e filosofia no Colégio dos Jesuítas. Mais tarde frequentou a academia, onde praticou os exercícios de equitação, esgrima e dança, exercícios estes que fazia, não por inclinação, mas para obedecer à vontade do pai. Além disto dedicou-se ao estudo das línguas orientais e da teologia. Terminados os cursos em Paris, por ordem do pai seguiu para Pádua, onde devia ainda estudar direito civil e eclesiástico. Em todos os lugares Francisco se distinguiu vantajosamente entre os companheiros e embora, de gênio forte e impetuoso, para todos era modelo de virtude. Para se conservar no meio de tantos perigos o jovem estudante recebia semanalmente a santa Comunhão e em Paris, na igreja de Santo Estevão, fez, em honra de Nossa Senhora, o voto de castidade perpétua. Este mesmo voto mais tarde ele o renovou no Santuário de Loreto e guardou-o fielmente até o fim da vida. Sem que o soubesse, aconteceu certa vez, que se encontrasse na casa de uma pecadora. Mal, porém, percebeu quais eram as intenções da mulher, cuspiu-lhe na cara e fugiu.
Não com tanta facilidade pode desvencilhar-se das tentações, com que o demônio o atormentava. A paz que até então o acompanhara, deu lugar à tristeza, a uma aridez quase insuportável. Por fim martirizou-o a idéia de estar abandonando Deus, de não poder salvar uma só alma. As orações, mortificações e práticas de piedade figuravam-se-lhe meros recursos de hipocrisia e de nenhum valor. Estes tormentos interiores influíram-lhe desfavoravelmente na saúde. Com o apetite perdeu a boa disposição, o sono e o bom humor. Por entre lágrimas e suspiros, queixou-se a Deus de sua triste sorte. As seguintes palavras são a expressão nítida do sofrimento de sua alma torturada: “Ó meu Deus, teria eu então perdido a vossa graça, depois de ter tantas vezes experimentado o vosso amor, a vossa misericórdia ? Santa Maria ! Mãe de Deus ! Seria eu excluído da glória celestial ? Não permitais, eu vo-lo peço, que seja condenado a vos amaldiçoar e blasfemar no inferno!” Também esta tempestade, passou e Deus se dignou de livrar seu servo do pesadelo, que o oprimia. Um dia Francisco entrou numa igreja, onde avistou uma imagem de Nossa Senhora. Debaixo da imagem leu a oração de São Bernardo: “Lembrai-vos, ó puríssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que as vós tem recorrido, fosse por vós desamparado”. Estas palavras foram-lhe um balsamo para o coração. Prostrado de joelhos, recitou com muito fervor a mesma oração, renovou o voto de castidade e acrescentou a seguinte declaração: “Ó minha Senhora e Rainha, sede minha intercessora junto de vosso Filho, perante o qual não me atrevo a comparecer. Queridíssima mãe, se tiver a infelicidade de não amar a Deus no outro mundo, alcançai-me a graça de amá-lo tanto mais enquanto aqui estou !” Feita esta oração, Francisco entregou-se sossegadamente à Divina Providência, e desde aquele dia, cessaram as insídias e perturbações diabólicas e tornou a voltar-lhe a paz e tranqüilidade, e com ela a saúde do corpo. Grato a Maria Santíssima, o Santo devotou-lhe ainda mais amor e não cessou de proclamar-lhe a grandeza, o poder e misericórdia.
Por vontade do pai, Francisco, terminado os estudos, havia de voltar para a terra natal, assumir o cargo de senador de Chambery e unir-se em casamento a uma fidalga da casa de Savóia. Francisco manifestou então o desejo de ordenar-se, resolução para a qual solicitou o consentimento dos pais. Conseguiu-o com muita dificuldade e depois de longa resistência. O Bispo Cláudio, de Genebra, administrou-lhe o sacramento da Ordem e do Papa recebeu a nomeação de preboste da Igreja de Genebra. Incumbido pelo Prelado da pregação de missões nas regiões do bispado, onde a heresia calvinista conseguira tomar pé, o neoprebístero dedicou-se à obra com todo o ardor. Incalculáveis eram os sacrifícios, perigos, até perseguições que encontrou no desempenho desta missão. Os hereges, vendo-se atacados com vigor, votaram ódio ao missionário e planejaram-lhe a morte. Deus, porém, protegeu seu ministro e este levou a obra da conversão dos hereges para dentro da cidade de Genebra. Corajosamente se dirigiu ao chefe do Calvinismo Beza convidando-o a abjurar o erro. Beza convenceu-se da verdade da Igreja Católica, mas não se animou a voltar para a casa paterna. Melhor resultado teve em outros lugares. Setenta e dois mil calvinistas abandonaram a seita e voltaram para o seio da Igreja Católica. Pela morte do Bispo Cláudio, a administração da diocese passou para Francisco. A nova dignidade fez ressaltar ainda mais as virtudes do jovem Prelado. Impelido por um zelo verdadeiramente apostólico, Francisco visitou a pé toda a diocese, visto que o Conselho da cidade tinha-lhe cortado todas as subvenções. Aos fiéis exortava à perseverança e a prática do bem; aos hereges com paciência e mansidão, mostrava-lhes os erros, e em toda a parte estabelecia o culto da Igreja Católica. Mais de uma vez convidou os mais eminentes oradores do Calvinismo para uma discussão pública; porém nenhum deles teve a coragem de medir-se com o Bispo católico, conhecendo-lhe a força de argumentação.
Nas horas vagas escreveu belíssimos livros religiosos, que têm sido e até hoje são muito apreciados.
Fundou, junto com Santa Joana Francisca de Chantal a Ordem da Visitação de Nossa Senhora, uma Ordem religiosa feminina contemplativa, que teve a aprovação apostólica e grata aceitação achou entre o povo católico.
Durante vinte anos tinha dirigido os destinos da diocese, e grandes foram os merecimentos de sua hábil e prudente administração, quando Deus houve por bem chamar o fiel servo à eterna recompensa. Negócios urgentes requereram a presença do Bispo em Lion, durante os dias de Natal, quando lhe sobreveio uma grave doença. Teve uma congestão cerebral, que lhe paralisou os membros, menos a língua. Entre os primeiros que o visitaram, achavam-se os Padres Jesuítas, aos quais disse: “Estais me vendo num estado, em que de nada preciso, a não ser da misericórdia divina. Peço que m’a alcanceis pela vossa oração”. Perguntado por um deles se estaria pronto a sujeitar-se à vontade de Deus, se ele lhe determinasse a morte, respondeu: “É bom esperar no Senhor: Para mim aquela hora é como qualquer outra. Deus é o Senhor. Que Ele de mim faça o que bem parecer. Nunca tive vontade diferente da sua”. Dito isto, fez a profissão da fé, na presença de muitas pessoas, para assim testemunhar, que sempre viveu na fé católica e nela queria morrer. Os santos Sacramentos recebeu-os com muita devoção. Durante os dias da doença permaneceu em contínua oração. Frequentes vezes rezava os seguintes versos dos Salmos: “ Meu coração e minha carne, alegraram-se no Senhor. Por toda a eternidade hei de cantar as misericórdias do Senhor. Quando comparecerei diante da vossa face ? Ó meu Deus, meu desejo a Vós se dirige, e meus suspiros Vós o conheceis. Meu Deus e meu tudo, meu desejo vai às colinas eternas. Purificai-me, Senhor, dos meus pecados; tirai de mim a minha culpa e purificai-me cada vez mais. Senhor, se faço falta ao vosso povo, não recuso o trabalho. Sou um servo inútil, de quem nem Deus, nem o povo têm necessidade.
Quando entrou em agonia, os circunstantes, de joelhos, rezaram a ladainha de Todos os Santos. Á invocação: Santos Inocentes, rogai por ele, Francisco exalou sua bela alma. Era o dia 28 de dezembro de 1622. O Santo tinha chegado à idade de 56 anos.
O coração do santo Bispo foi solenemente transportado para o convento da Visitação em Lion; o corpo descansa no convento da mesma Congregação em Aneci. Os milagres com que Deus glorificou o túmulo do seu servo, são numerosos. O próprio Papa Alexandre VII, que em 1665 inseriu o nome de Francisco no catálogo dos Santos, por intercessão do mesmo ficou livre de um mal incurável. A bula da canonização enumera, entre os milagres provados e documentados, a cura de um cego de nascimento, de quatro paralíticos e a ressurreição de dois mortos.
Em 1923 foi declarado Doutor da Igreja e Padroeiro da Imprensa e dos jornalistas católicos.
Reflexões:
São Francisco de Sales era de índole irascível e intratável. A ira é um vício muito comum, mesmo entre os cristãos. Muitos daqueles que se irritam por qualquer coisa e se excedem em palavras ásperas ou mesmo blasfemas; conhecendo embora seu defeito, em vez de o combater, como fez São Francisco, se desculpam, dizendo: “este é meu gênio, não está em mim conter-me: sou muito nervoso, etc.” São desculpas do egoísmo, a preguiça e do comodismo. A ira é um dos vícios mais perigosos e causadores de muitos pecados. Se notares em ti uma inclinação para esta paixão não te desculpes com teu gênio, mas trata de modificá-lo, embora isto te custe muito. Observa o conselho de Santo Agostinho que diz: “Se a ira te tentar, resiste-lhe fortemente, e não te deixes arrastar a imprudências e excesso no falar e castigar. Acalma-te primeiro, para então depois falar e castigar. A ira deve obedecer à tua vontade e não vice-versa”. “Cada um de vós – diz São Tiago – seja pronto para ouvir; porém, tardo no falar e tardo para se irar. Porque a ira do homem não cumpre a justiça de Deus” (1, 19).
São Francisco conseguiu uma brilhante vitória sobre seu gênio impetuoso e irascível. Esta vitória alias, custou anos de árduo combate e implacável luta.
São Francisco de Sales é o padroeiro da Boa Imprensa. A Imprensa é uma potência para o bem e para o mal. É uma das mais belas conquistas do gênio humano. Infelizmente o inimigo do homem, o espírito das trevas apoderou-se deste belo invento, fazendo dele uma arma formidável, para ferir de morte as almas remidas pelo sangue de Cristo. Cidade, país não há, onde a majestade das trevas não tenha ministros, adeptos e apóstolos que, servindo-se da imprensa, infiltram nas almas o veneno da impiedade, da incredulidade, da superstição, da imoralidade. A má imprensa é o polvo, que adstringe a humanidade, num amplexo asfixiador. Cooperador da má imprensa, missionário desta empresa satânica é todo aquele que a favorece e suborna, pela leitura, pela compra, pela colaboração e pelo auxílio material. Houve quem dissesse que São Pedro se voltasse ao mundo, se dedicaria à missão da boa imprensa. Como católico, deves combater a má imprensa e em hipótese alguma concorrer para maior incremento – pelo contrário, deves ser amigo e apóstolo da Boa Imprensa. A má imprensa representa a causa de Lúcifer; a Boa Imprensa é a defensora da causa de Cristo.
Fonte: Página Oriente
São Francisco, o grande apóstolo do seu tempo, modelo perfeito de santidade, protótipo de Bispo e sacerdote, nasceu em 1567, no castelo de Sales, próximo a Aneci, na Savoia. Os pais eram e alta nobreza e muito religiosos. Antes do nascimento do filho já o tinham consagrado a Deus. A mãe, Francisca, pedira a Deus que antes a privasse do prazer de ser mãe, do que permitir que desse à luz uma criança que tivesse a infelicidade de ser um inimigo do seu Criador.
A condessa velou com o máximo cuidado pela educação do filho, que, apesar do nascimento prematuro e da constituição fraquíssima, se desenvolveu admiravelmente.
O menino ia com ela à igreja, e pela palavra e exemplo, implantou ela no coração do filhinho profundo respeito à casa de Deus, amor à oração e ao culto divino. Freqüentemente lhe fazia uma leitura da vida dos Santos, condimentando-a com instruções adequadas. Francisco devia acompanhá-la até nas visitas que fazia aos pobres e doentes e era ele quem dava as esmolas aos necessitados.
Com uma docilidade admirável o menino aceitou as medidas educativas da mãe. De tenra idade ainda, já era amigo da oração, sincero no falar e agir, e compassivo com os que sofrem.
Tendo chegado o tempo do menino entregar-se aos estudos houve divergência entre os pais. Enquanto a mãe, receosa de expor o filho a perigos espirituais, opinava dever ministrar-lhe o ensino em casa, e para este fim tratar professores particulares, o conde era de opinião que Francisco devia fazer os estudos num colégio no meio de companheiros da mesma idade. Bem sabia que o estímulo muito favorece o progresso nas ciências. Tendo seis anos, Francisco freqüentou o colégio de Rocheville, e mais tarde o de Aneci. Os professores ficaram admirados do talento privilegiado do aluno. No meio dos trabalhos escolares, Francisco não se esquecia das práticas religiosas. Oração e leitura espiritual eram-lhe companheiros inseparáveis.
Bastante preparado nas matérias propedêuticas, era da vontade do pai, que Francisco seguisse para Paris, com o fim de completar os estudos.
Diante da separação do filho, a condessa redobrou de esforços para confirmá-lo na prática das virtudes. Mais do que nunca lhe recomendou o amor de Deus, a oração, a fuga do pecado e das más ocasiões. Muitas vezes lhe dizia: “Meu filho, prefiro ver-te morto a saber um dia que cometeste um pecado mortal”.
Em companhia de um sacerdote, a quem o cuidado paternal o tinha confiado, foi Francisco para a Capital. Algum tempo estudou retórica e filosofia no Colégio dos Jesuítas. Mais tarde frequentou a academia, onde praticou os exercícios de equitação, esgrima e dança, exercícios estes que fazia, não por inclinação, mas para obedecer à vontade do pai. Além disto dedicou-se ao estudo das línguas orientais e da teologia. Terminados os cursos em Paris, por ordem do pai seguiu para Pádua, onde devia ainda estudar direito civil e eclesiástico. Em todos os lugares Francisco se distinguiu vantajosamente entre os companheiros e embora, de gênio forte e impetuoso, para todos era modelo de virtude. Para se conservar no meio de tantos perigos o jovem estudante recebia semanalmente a santa Comunhão e em Paris, na igreja de Santo Estevão, fez, em honra de Nossa Senhora, o voto de castidade perpétua. Este mesmo voto mais tarde ele o renovou no Santuário de Loreto e guardou-o fielmente até o fim da vida. Sem que o soubesse, aconteceu certa vez, que se encontrasse na casa de uma pecadora. Mal, porém, percebeu quais eram as intenções da mulher, cuspiu-lhe na cara e fugiu.
Não com tanta facilidade pode desvencilhar-se das tentações, com que o demônio o atormentava. A paz que até então o acompanhara, deu lugar à tristeza, a uma aridez quase insuportável. Por fim martirizou-o a idéia de estar abandonando Deus, de não poder salvar uma só alma. As orações, mortificações e práticas de piedade figuravam-se-lhe meros recursos de hipocrisia e de nenhum valor. Estes tormentos interiores influíram-lhe desfavoravelmente na saúde. Com o apetite perdeu a boa disposição, o sono e o bom humor. Por entre lágrimas e suspiros, queixou-se a Deus de sua triste sorte. As seguintes palavras são a expressão nítida do sofrimento de sua alma torturada: “Ó meu Deus, teria eu então perdido a vossa graça, depois de ter tantas vezes experimentado o vosso amor, a vossa misericórdia ? Santa Maria ! Mãe de Deus ! Seria eu excluído da glória celestial ? Não permitais, eu vo-lo peço, que seja condenado a vos amaldiçoar e blasfemar no inferno!” Também esta tempestade, passou e Deus se dignou de livrar seu servo do pesadelo, que o oprimia. Um dia Francisco entrou numa igreja, onde avistou uma imagem de Nossa Senhora. Debaixo da imagem leu a oração de São Bernardo: “Lembrai-vos, ó puríssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que as vós tem recorrido, fosse por vós desamparado”. Estas palavras foram-lhe um balsamo para o coração. Prostrado de joelhos, recitou com muito fervor a mesma oração, renovou o voto de castidade e acrescentou a seguinte declaração: “Ó minha Senhora e Rainha, sede minha intercessora junto de vosso Filho, perante o qual não me atrevo a comparecer. Queridíssima mãe, se tiver a infelicidade de não amar a Deus no outro mundo, alcançai-me a graça de amá-lo tanto mais enquanto aqui estou !” Feita esta oração, Francisco entregou-se sossegadamente à Divina Providência, e desde aquele dia, cessaram as insídias e perturbações diabólicas e tornou a voltar-lhe a paz e tranqüilidade, e com ela a saúde do corpo. Grato a Maria Santíssima, o Santo devotou-lhe ainda mais amor e não cessou de proclamar-lhe a grandeza, o poder e misericórdia.
Por vontade do pai, Francisco, terminado os estudos, havia de voltar para a terra natal, assumir o cargo de senador de Chambery e unir-se em casamento a uma fidalga da casa de Savóia. Francisco manifestou então o desejo de ordenar-se, resolução para a qual solicitou o consentimento dos pais. Conseguiu-o com muita dificuldade e depois de longa resistência. O Bispo Cláudio, de Genebra, administrou-lhe o sacramento da Ordem e do Papa recebeu a nomeação de preboste da Igreja de Genebra. Incumbido pelo Prelado da pregação de missões nas regiões do bispado, onde a heresia calvinista conseguira tomar pé, o neoprebístero dedicou-se à obra com todo o ardor. Incalculáveis eram os sacrifícios, perigos, até perseguições que encontrou no desempenho desta missão. Os hereges, vendo-se atacados com vigor, votaram ódio ao missionário e planejaram-lhe a morte. Deus, porém, protegeu seu ministro e este levou a obra da conversão dos hereges para dentro da cidade de Genebra. Corajosamente se dirigiu ao chefe do Calvinismo Beza convidando-o a abjurar o erro. Beza convenceu-se da verdade da Igreja Católica, mas não se animou a voltar para a casa paterna. Melhor resultado teve em outros lugares. Setenta e dois mil calvinistas abandonaram a seita e voltaram para o seio da Igreja Católica. Pela morte do Bispo Cláudio, a administração da diocese passou para Francisco. A nova dignidade fez ressaltar ainda mais as virtudes do jovem Prelado. Impelido por um zelo verdadeiramente apostólico, Francisco visitou a pé toda a diocese, visto que o Conselho da cidade tinha-lhe cortado todas as subvenções. Aos fiéis exortava à perseverança e a prática do bem; aos hereges com paciência e mansidão, mostrava-lhes os erros, e em toda a parte estabelecia o culto da Igreja Católica. Mais de uma vez convidou os mais eminentes oradores do Calvinismo para uma discussão pública; porém nenhum deles teve a coragem de medir-se com o Bispo católico, conhecendo-lhe a força de argumentação.
Nas horas vagas escreveu belíssimos livros religiosos, que têm sido e até hoje são muito apreciados.
Fundou, junto com Santa Joana Francisca de Chantal a Ordem da Visitação de Nossa Senhora, uma Ordem religiosa feminina contemplativa, que teve a aprovação apostólica e grata aceitação achou entre o povo católico.
Durante vinte anos tinha dirigido os destinos da diocese, e grandes foram os merecimentos de sua hábil e prudente administração, quando Deus houve por bem chamar o fiel servo à eterna recompensa. Negócios urgentes requereram a presença do Bispo em Lion, durante os dias de Natal, quando lhe sobreveio uma grave doença. Teve uma congestão cerebral, que lhe paralisou os membros, menos a língua. Entre os primeiros que o visitaram, achavam-se os Padres Jesuítas, aos quais disse: “Estais me vendo num estado, em que de nada preciso, a não ser da misericórdia divina. Peço que m’a alcanceis pela vossa oração”. Perguntado por um deles se estaria pronto a sujeitar-se à vontade de Deus, se ele lhe determinasse a morte, respondeu: “É bom esperar no Senhor: Para mim aquela hora é como qualquer outra. Deus é o Senhor. Que Ele de mim faça o que bem parecer. Nunca tive vontade diferente da sua”. Dito isto, fez a profissão da fé, na presença de muitas pessoas, para assim testemunhar, que sempre viveu na fé católica e nela queria morrer. Os santos Sacramentos recebeu-os com muita devoção. Durante os dias da doença permaneceu em contínua oração. Frequentes vezes rezava os seguintes versos dos Salmos: “ Meu coração e minha carne, alegraram-se no Senhor. Por toda a eternidade hei de cantar as misericórdias do Senhor. Quando comparecerei diante da vossa face ? Ó meu Deus, meu desejo a Vós se dirige, e meus suspiros Vós o conheceis. Meu Deus e meu tudo, meu desejo vai às colinas eternas. Purificai-me, Senhor, dos meus pecados; tirai de mim a minha culpa e purificai-me cada vez mais. Senhor, se faço falta ao vosso povo, não recuso o trabalho. Sou um servo inútil, de quem nem Deus, nem o povo têm necessidade.
Quando entrou em agonia, os circunstantes, de joelhos, rezaram a ladainha de Todos os Santos. Á invocação: Santos Inocentes, rogai por ele, Francisco exalou sua bela alma. Era o dia 28 de dezembro de 1622. O Santo tinha chegado à idade de 56 anos.
O coração do santo Bispo foi solenemente transportado para o convento da Visitação em Lion; o corpo descansa no convento da mesma Congregação em Aneci. Os milagres com que Deus glorificou o túmulo do seu servo, são numerosos. O próprio Papa Alexandre VII, que em 1665 inseriu o nome de Francisco no catálogo dos Santos, por intercessão do mesmo ficou livre de um mal incurável. A bula da canonização enumera, entre os milagres provados e documentados, a cura de um cego de nascimento, de quatro paralíticos e a ressurreição de dois mortos.
Em 1923 foi declarado Doutor da Igreja e Padroeiro da Imprensa e dos jornalistas católicos.
Reflexões:
São Francisco de Sales era de índole irascível e intratável. A ira é um vício muito comum, mesmo entre os cristãos. Muitos daqueles que se irritam por qualquer coisa e se excedem em palavras ásperas ou mesmo blasfemas; conhecendo embora seu defeito, em vez de o combater, como fez São Francisco, se desculpam, dizendo: “este é meu gênio, não está em mim conter-me: sou muito nervoso, etc.” São desculpas do egoísmo, a preguiça e do comodismo. A ira é um dos vícios mais perigosos e causadores de muitos pecados. Se notares em ti uma inclinação para esta paixão não te desculpes com teu gênio, mas trata de modificá-lo, embora isto te custe muito. Observa o conselho de Santo Agostinho que diz: “Se a ira te tentar, resiste-lhe fortemente, e não te deixes arrastar a imprudências e excesso no falar e castigar. Acalma-te primeiro, para então depois falar e castigar. A ira deve obedecer à tua vontade e não vice-versa”. “Cada um de vós – diz São Tiago – seja pronto para ouvir; porém, tardo no falar e tardo para se irar. Porque a ira do homem não cumpre a justiça de Deus” (1, 19).
São Francisco conseguiu uma brilhante vitória sobre seu gênio impetuoso e irascível. Esta vitória alias, custou anos de árduo combate e implacável luta.
São Francisco de Sales é o padroeiro da Boa Imprensa. A Imprensa é uma potência para o bem e para o mal. É uma das mais belas conquistas do gênio humano. Infelizmente o inimigo do homem, o espírito das trevas apoderou-se deste belo invento, fazendo dele uma arma formidável, para ferir de morte as almas remidas pelo sangue de Cristo. Cidade, país não há, onde a majestade das trevas não tenha ministros, adeptos e apóstolos que, servindo-se da imprensa, infiltram nas almas o veneno da impiedade, da incredulidade, da superstição, da imoralidade. A má imprensa é o polvo, que adstringe a humanidade, num amplexo asfixiador. Cooperador da má imprensa, missionário desta empresa satânica é todo aquele que a favorece e suborna, pela leitura, pela compra, pela colaboração e pelo auxílio material. Houve quem dissesse que São Pedro se voltasse ao mundo, se dedicaria à missão da boa imprensa. Como católico, deves combater a má imprensa e em hipótese alguma concorrer para maior incremento – pelo contrário, deves ser amigo e apóstolo da Boa Imprensa. A má imprensa representa a causa de Lúcifer; a Boa Imprensa é a defensora da causa de Cristo.
Fonte: Página Oriente
Bem-aventurado José Timóteo Giaccardo
(24 de Janeiro)
José Timóteo Giaccardo, sacerdote paulino, italiano, pertence à Congregação da Pia Sociedade de São Paulo. A originalidade de sua vida está em ter sido o primeiro sacerdote da Família Paulina e um fidelíssimo discípulo do Fundador, Padre Tiago Alberione. Nasceu em Narsole, norte da Itália. Sua família era pobre de bens materiais, mas rica de fé e virtudes cristãs. Em 1908 José encontrou-se pela primeira vez com o jovem pad...
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(24 de Janeiro)
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