ROBERTO KAWASAKI
Benedito, produtor de leite, se prepara para as dificuldades do setor. Foto: Marcio Oliveira |
O
IEA/Cati (Instituto de Economia Agrícola/Coordenadoria de Assistência
Técnica Integral) divulgou neste mês, o VPA (Valor da Produção
Agropecuária) Paulista Regional, com estimativas de 2017. Conforme os
números apresentados, a cana-de-açúcar continua tendo maior
representatividade nos EDRs (Escritórios de Desenvolvimento Rural) da
10ª RA (Região Administrativa) do Estado de São Paulo. Do
total de R$ 5.750.574.349 movimentados pela produção agropecuária
regional em 2017, 48% foram gerados pelos canaviais, cujo VPA foi de R$
2,7 bilhões. O cálculo foi elaborado a partir de dados de produção e
preços das cadeias de produção animal e vegetal de 50 produtos
selecionados.
De
acordo com Wilson Antônio de Barros, assistente de planejamento do EDR
de Prudente, não é de hoje que a cana-de-açúcar é a cultura de maior
representatividade na região. Conforme explica à reportagem, começou a
apresentar produções mais significativas há dois anos, quando o mercado
do álcool passou a exigir mais matéria-prima. “Com o preço da gasolina e
do diesel subindo com frequência, o mercado impulsiona mais produção de
etanol, já que o combustível permite concorrência de preços entre as
produções”, explica.
Com
a exigência mercadológica, os produtores sentem a necessidade de
expandir os canaviais. Desta forma, Wilson conta que “propriedades
rurais estão vendendo suas áreas para que a cana seja cultivada”, o que
afeta outras culturas. Quando o canavial começa a ser plantado em áreas
de pastagens, o arrendamento para usinas de álcool permite a
estabilidade para o arrendatário. No entanto, o técnico afirma que “o
produtor que arrendou suas terras vai deixar de produzir, e viver apenas
da estabilidade financeira do arrendamento”.
Tendo
em vista o crescimento da cultura canavieira, a geração de empregos
também é afetada de maneira positiva, o que aumenta o número de cargos
para técnicos especializados em áreas da agroindústria, açúcar e álcool e
meio ambiente. “As empresas estão buscando mão de obra qualificada, e
contrata estudantes de ensino técnico e superior, bem como profissionais
formados”, acrescenta o assistente.
Pecuária é afetada
Enquanto
a cultura canavieira continua a crescer regionalmente, a pecuária de
corte bovino e a produção de leite apresentaram quedas na produção,
contudo, continuam no ranking das principais produções regionais.
Segundo o balanço divulgado, a estimativa final do valor de produção da
carne bovina, em 2016, foi de R$ 1,8 bilhão e, no ano seguinte, houve
queda para R$ 1,6 bilhão. Isso mostra uma variação de 9,14% entre estes
períodos. Já em relação à produção leiteira, a redução entre os períodos
foi de 3,72%, quando em 2016 a estimativa final do valor de produção
era de R$ 187,3 milhões e, no ano seguinte, R$ 180,3 milhões.
O
presidente do Sindicato Rural de Presidente Prudente, Carlos Roberto
Biancardi, explica que o fator que reflete neste cenário é o fato de a
cana-de-açúcar estar sendo plantada em área de pastagem, o que provoca,
de maneira negativa, a falta de produção e contratação de empregos na
pecuária. “Sempre tivemos grandes produtores de gado de elite,
reprodutores, temos bom desenvolvimento em pesquisas de cruzamento entre
espécies. Então, apesar de apresentar quedas no cenário, temos bons
investimentos”, afirma.
De
acordo com Luiz Antonio Nabhan Garcia, presidente da UDR (União
Democrática Ruralista), a queda na pecuária é reflexo da política
agrícola “que não leva a sério o trabalho desenvolvido pelo produtor
rural”. Diante da falta de incentivo aos produtores, as expectativas no
cenário não são das melhores. “O pecuarista está desestimulado a
trabalhar, e isso faz com que ele migre de cultura”, expõe.
A
baixa do preço da arroba do boi, os altos custos de produtos para
manter o trabalho e o clima seco, também foram citados como fatores que
interferem no desenvolvimento do cenário. O produtor de leite, Benedito
Pedro da Silva Santos, 58 anos, tem sentido o lado negativo que o
cenário atual apresenta. No ramo há 12 anos, possui 26 vacas para
ordenha, mas apenas três estão aptas ao trabalho. “Tive problemas com um
programa de inseminação, mas já está resolvido. Até o ano que vem minha
produção deve voltar”, explica.
Apesar
do otimismo, Benedito diz que é preciso estar preparado para possíveis
dificuldades do setor. “Minha esposa e meu filho trabalham comigo,
então, não gasto com funcionários. Mas tenho medo de chegar ano que vem e
eu continuar a gastar mais que a produção”, acrescenta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário