Empresa do deputado estadual Cauê Macris (PSDB) não aparece na relação de fornecedores de campanha declarada à Justiça Eleitoral
Por Fabio Leite
O presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), Cauê Macris
(PSDB), repassou R$ 266 mil de sua campanha a deputado estadual em 2018
para o posto de gasolina do qual é sócio, na cidade de Limeira, no
interior paulista. Ao todo, o tucano recebeu R$ 751,3 mil na eleição,
sendo que R$ 195 mil foram do fundo eleitoral, que é constituído por
dinheiro público.
Extratos bancários anexados à prestação de contas de Cauê no Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) mostram que 235 cheques emitidos pela campanha
do deputado estadual por meio de duas contas eleitorais abertas no Banco
do Brasil foram compensados pela empresa Posto União de Limeira Ltda.,
na conta que ela possui em uma agência do Bradesco em Americana. Esta é a
cidade onde o tucano iniciou a carreira política e concentra seu reduto
eleitoral.
A empresa foi aberta por Cauê e pelo empresário Thiago de Freitas Akim
em setembro de 2012 e opera um posto de combustível que fica no km 134
da Rodovia Anhanguera, em Limeira, vizinha de Americana, na região de
Campinas. Em sua declaração de bens enviada à Justiça Eleitoral, o
deputado declara ter 50% da sociedade, o que equivale a R$ 125 mil em
quotas.
Apesar de o valor recebido ser o maior gasto da campanha do parlamentar
tucano, a empresa não aparece na relação de fornecedores declarada ao
TSE. A líder do ranking informado pelo deputado é a gráfica Formulários
Covolan Ltda., que recebeu R$ 150,9 mil pela impressão de adesivos,
informativos e santinhos. Na lista aparecem apenas dois postos de
gasolina, que receberam, juntos, R$ 5 mil da campanha do candidato.
O tucano afirmou por meio de nota enviada ao Estado que
usou a própria empresa para "facilitar o pagamento dos cabos
eleitorais" que trabalharam na campanha no interior e ressaltou que a
prestação de contas foi aprovada pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE).
Dois especialistas em direito eleitoral que pediram para não ser
identificados disseram, contudo, que a prática é "ilegal" e dá margem
para uma investigação criminal sobre possível desvio de recursos da
campanha.
Transações
Segundo os extratos bancários registrados no TSE, 84 cheques emitidos
pela campanha de Cauê foram compensados em um único dia pela empresa
dele: 28 de setembro de 2018. Os papéis somam R$ 120,5 mil. A transação
ocorreu um dia depois de a campanha receber R$ 170 mil do fundo
eleitoral do PSDB por meio de uma transferência bancária feita pela
campanha do deputado federal Vanderlei Macris (PSDB), pai do presidente
da Alesp.
Outra leva de cheques da campanha foi compensada pela empresa do
parlamentar em outras quatro datas, entre 1.º e 19 de outubro. Os
valores variam de R$ 300 a R$ 5 mil. No mesmo endereço do posto de
gasolina, em Limeira, funciona uma empresa de administração de imóveis
aberta em maio do ano passado pelo deputado e pela mulher dele. O tucano
ainda é sócio de uma churrascaria na região.
Na relação de fornecedores divulgada pela campanha do tucano aparecem,
além de empresas que fazem impulsionamento de conteúdos na internet,
cerca de 300 pessoas físicas que teriam sido contratadas como cabos
eleitorais ou para prestar serviços não especificados no documento.
Segundo a prestação de contas final entregue à Justiça Eleitoral no dia
22 de novembro, o presidente da Assembleia gastou R$ 334 mil em
"despesas com pessoal" durante a eleição.
De acordo com o deputado estadual, parte desses militantes foi paga
pela empresa dele com recursos da campanha. Os analistas ouvidos pelo
Estado afirmaram que o uso de empresas como intermediárias é "proibido
pela lei eleitoral" e que "causa estranheza" a prática ter sido
utilizada por um presidente da Assembleia, que já disputou cinco
eleições.
Alesp
Hoje com 35 anos, Cauê iniciou a carreira política se elegendo vereador
de Americana, em 2004, pelas mãos do pai, que já foi presidente da
Alesp. No ano passado, o tucano foi reeleito para o terceiro mandato
consecutivo no Legislativo paulista, do qual é presidente desde 2017 e o
favorito para se reeleger no comando da Casa na eleição em 15 de março.
O Estado mostrou que nove funcionários comissionados
da Alesp, entre assessores, diretores e até o secretário-geral de
administração, doaram R$ 103,5 mil para a campanha de Cauê. Seis
transferências foram feitas no mesmo dia. As contribuições variaram
entre R$ 4 mil e R$ 20 mil, mais do que o tucano gastou na própria
campanha: R$ 1,8 mil. O caso deve ser investigado pelo Ministério
Público Estadual, que recebeu anteontem uma representação de um deputado
do PSL, adversário do tucano na eleição da Mesa Diretora.
Deputado diz que usou empresa para 'agilizar pagamento'
O presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), Cauê
Macris (PSDB), afirmou, por meio de nota, que repassou dinheiro da
campanha para a própria empresa "para facilitar o pagamento dos cabos
eleitorais" que trabalharam pela sua reeleição.
Segundo a assessoria do tucano, como a agência bancária da conta de
campanha ficava na capital e muitos cabos eleitorais contratados eram do
interior e não possuíam contas, o deputado "utilizou de maneira
totalmente transparente e legal" a empresa Posto União de Limeira, da
qual é sócio, "para descontar cheques e garantir a agilidade do
pagamento aos trabalhadores".
A nota destaca ainda que "os cheques foram nominais, os colaboradores
tiveram contrato de trabalho, foram pagos e assinaram recibo". Afirma
ainda que a prestação de contas foi aprovada pela Justiça Eleitoral e
que todo material de campanha "está à disposição da reportagem".
Sobre as transferências que somam R$ 103 mil feitas por funcionários da
Alesp à campanha, a assessoria de Cauê diz que "todas as doações
realizadas foram feitas de forma voluntária obedecendo aos limites
legais".
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