domingo, 16 de maio de 2021

Médico da região participa do primeiro transplante de pulmão em vítima de Covid

 Por www.folhadaregiao.com.br



Alessandra Nogueira —

O médico cirurgião Oswaldo Gomes Junior, natural de Mirandópolis, integrou a equipe que realizou o primeiro transplante de pulmão bem-sucedido no Brasil em um paciente que teve o órgão destruído pela Covid-19, com uma fibrose irreversível.

O paciente é um empresário de 61 anos, de Alagoas, que deve ter alta nos próximos dias, após sete meses de internação e 88 dias sendo mantido com um pulmão artificial, a chamada ECMO, sigla em inglês que significa oxigenação por membrana extracorpórea. A máquina substituiu temporariamente o órgão severamente comprometido pela Covid.

O transplante no paciente com sequelas irreversíveis causado pelo novo coronavírus foi realizado no dia 14 de fevereiro, no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, onde o médico de Mirandópolis integra a equipe cirúrgica de transplante pulmonar. Foi o segundo procedimento realizado no Brasil, mas o primeiro paciente não sobreviveu.

O empresário transplantado permanece internado e está em sua fase final de reabilitação pós-operatória. O processo de recuperação é lento e gradual, pois estava extremamente debilitado, haja vista que ficou muito tempo em ventilação mecânica , com sedação, traqueostomia e uma fraqueza muscular intensa.

Os cuidados no pré e pós-operatório envolvem diversos profissionais, entre médicos pneumologistas, infectologistas, intensivistas, além de uma equipe multidisciplinar.

“Já completamos três meses de pós-operatório, pós-transplante, a evolução tem sido muito favorável. É um trabalho árduo multidisciplinar, que envolve médicos, nutricionistas, fonoaudiólogos e, principalmente, fisioterapeutas”, afirma o médico.

“Vida normal”

Atualmente, segundo o cirurgião, o empresário encontra-se em um bom estado de saúde, já conseguindo realizar suas atividades habituais, se alimentando de maneira satisfatória, mas ainda existe todo um trabalho de reabilitação física que ainda continuará após a alta hospitalar, em casa.

A expectativa, porém, é que ele volte a ter uma vida “normal”, realizando atividades que habitualmente fazia em seu cotidiano, incluindo atividades físicas, embora tenha de fazer uso de uma série de medicamentos (imunossupressores), acompanhamento médico rigoroso e outros cuidados para evitar a rejeição do órgão.

Transplante

O transplante durou mais de dez horas, com a participação de sete profissionais, mas para viabilizar o procedimento houve uma verdadeira corrida contra o tempo. Todo o processo de avaliação do órgão do doador, que estava no interior de São Paulo, a própria captação do órgão e o posterior transplante levou mais de 20 horas.

“Foi um trabalho extremamente sincronizado, pois o tempo de isquemia (tempo que o órgão fica fora do corpo), deve ser o mínimo possível. Neste caso em especial, devido à distância, toda uma logística foi montada, com uso de jato, helicóptero e uma ambulância, para otimizar e minimizar esse tempo”, explicou o cirurgião”.

O médico explica que há várias diferenças técnicas entre um transplante de pacientes sem e com Covid-19. A principal é no perfil do transplantado após a infecção pelo novo coronavírus, pois é uma pessoa que há pouco tempo tinha uma vida normal, trabalhava, fazia atividades físicas e não tinha dificuldades para respirar.

“É muito diferente de uma pessoa que tem outra doença pulmonar terminal, como por exemplo o enfisema pulmonar causado pelo cigarro, onde a pessoa vai piorando seu pulmão e seu padrão respiratório ao longo dos anos, até vir as primeiras crises de dispnéia, que é a falta de ar, começar a depender de oxigênio, e assim piorando sua condição clínica progressivamente. São situações muito distintas e por consequência necessitam de cuidados distintos”.


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