O grupo é um dos mais afetados pelo isolamento social necessário para conter a disseminação da Covid-19. A medida, embora justificada, acaba prejudicando financeiramente profissionais e estabelecimentos
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Renan Fagundes Demarque, proprietário da academia Esparta Ginásio e Suplementação, também sofre os efeitos da pandemia (Foto: Gustavo Castellon | Grupo IMPACTO) |
As regras de afrouxamento do isolamento social no Estado de São Paulo que serão anunciadas nesta sexta-feira (8), não devem contemplar as academias, que continuarão fechadas. A justificativa é que o ambiente reúne muitas pessoas e há compartilhamento de aparelhos de musculação, halteres, esteiras e bicicletas ergométricas. A possibilidade de contágio nestes locais é visível, segundo o governo de São Paulo.
Para empresas do mercado fitness a receita financeira com a pandemia foi praticamente zerada. Academias fechadas há quase 50 dias, planos cancelados e pagamento das mensalidades suspenso por todo período de isolamento, trazem incertezas sobre o retorno das atividades.
Em Adamantina estão registradas no Cadastro Municipal da Prefeitura 35 empresas que atuam na saúde e bem-estar do corpo. Destas, 20 são empresas formalizadas e 15 atuam como pessoa física.
Atendendo há mais de 13 anos, a Arena Academia é uma destas 35 empresas que vive o drama do estabelecimento fechado. O empresário Fabiano Montagnoli disse que nunca viveu nada semelhante em todos estes anos de atuação, nem mesmo com a greve dos caminhoneiros em 2018.
“Estou sem rumo, nunca passei por isso. Não posso trabalhar, mas as contas continuam, não tenho como pagar meus funcionários que também dependem de mim. Não posso abrir a academia, mas a fila na Caixa Econômica Federal, dobra a esquina”, desabafa.
O proprietário da academia CrossHard, Hebert Buffon pontua ser favorável ao distanciamento social seletivo, baseado em estudos científicos. Segundo Hebert, que também é coordenador de divulgação e membro administrativo de cursos e palestras do Arnold Sports Festival South América, os Conselhos Federal e Estadual de Educação Física disciplinaram por meio de recomendações, as estratégias internas sanitárias para prevenir o possível contágio.
Dessa forma, Buffon diz que a paralisação total das atividades não se justifica, tanto pelo ponto de vista da determinação do Governo Estadual, nem Municipal, uma vez que os órgãos especializados em Saúde e Educação Física já sinalizaram a possibilidade de retorno das atividades nos moldes do distanciamento social seletivo, o que tem sido ignorado pelo comitê Municipal em atividade.
Segundo ele a perda da normalidade e das conexões com os outros, aliado ao medo do prejuízo econômico está atingindo e causando sofrimento coletivo. “Sinto que o mundo mudou e ele realmente mudou. Sabemos que a situação é temporária, e percebemos que as coisas serão diferentes daqui pra frente”, diz.
Márcia Molina Fonseca, administradora da Academia Rock Your Life – Fisioterapia e Fitness, acredita que o isolamento é a melhor forma de proteger pessoas e de evitar o colapso em hospitais.
A administradora também acreditava que o isolamento seguraria a contaminação e logo retornaria as atividades. Não foi o que aconteceu. “Tudo se estendeu por muito mais tempo do que previsto. E é claro que nossa saúde financeira começou a complicar. Temos que pensar em funcionário, estagiário, impostos, aluguel, água, luz, telefone, taxas que chegam mesmo estando parados. Complicou bastante”, comenta.
PAGAMENTOS DE MENSALIDADES
Para tentar manter os negócios, os proprietários das academias estão tentando segurar os clientes da forma que podem para não perder o faturamento. Alguns negociam meses pagos durante a pandemia, como crédito para quando o isolamento for relaxado.
O proprietário da Arena Academia comenta que alguns alunos disseram que vão continuar com o pagamento das mensalidades, no único intuito de colaborar com a empresa.
A academia Rock Your Life trabalha com planos trimestrais. Desta forma a administração estuda uma forma de prorrogar o vencimento desses planos. “Ainda estamos estudando, pois sabemos que será um ano de dificuldades, muito complicado”, diz Márcia Molina.
Pôr as academias serem setores de prestação de serviço, poucos clientes pagaram as mensalidades de abril. Na Academia Rosânia Gonçalves, fechada desde o dia 20 de março, a proprietária do estabelecimento acredita que também não vai receber as mensalidades de maio. “Algumas pessoas pagaram porque acreditavam que iria voltar as aulas rapidamente. Como não aconteceu combinamos de descontar nas mensalidades quando tudo voltar ao normal”, comenta Rosânia. Segundo ela, em abril, apenas um terço das alunas pagaram a mensalidade.
Renan Fagundes Demarque, proprietário da academia Esparta Ginásio e Suplementação, também sofre os efeitos da pandemia. “Nós do setor sofremos com esta pandemia porque geralmente os clientes pagam para utilizar, em um período de 30 dias. Por conta desta pausa, estamos há quase dois meses sem faturamento. Para os alunos que possuem planos e pacotes, não cobramos os meses que estamos parados”, explica.
Segundo Demarque, quando voltar os treinos, a academia disponibilizará os meses que já foram pagos antecipadamente. “Nestes meses também não haverá faturamento. Isto pode virar uma bola de neve para os empresários deste ramo. São praticamente dois meses sem receber nada. As contas não param – salário dos funcionários, aluguel, água, energia entre tantos outros compromissos”, pontua.
AULAS ONLINE
O mercado fitness busca alternativas para manter o caixa, preservar empregos dos funcionários e engajar os alunos que estão em casa.
Aulas online e lives em redes sociais têm sido uma abordagem comum deste segmento, muitas delas distribuídas gratuitamente. O objetivo das academias não é aumentar a receita, mas manter a relevância entre os alunos.
“As aulas online aplicam-se bem para iniciantes. Para os veteranos esta modalidade não funciona. Não é o mesmo estímulo para o músculo, para quem já treina há algum tempo”, explica Fabiano Montagnoli, da Arena Academia.
Economicamente as aulas online poderiam ser uma saída, explica o proprietário da academia CrossHard, Hebert Buffon. Segundo ele esta é uma forma de obter recurso, porém sem um retorno considerável. “As aulas online é uma forma de marketing e não traz retorno financeiro, mas, a questão não é só essa. Praticar exercícios físicos em casa é uma boa saída neste período de quarentena, porém, é preciso tomar cuidados. O fato do profissional não estar ao lado do aluno e de ambos não estarem na academia contribuem negativamente no desenvolvimento das atividades. A má postura corporal, cargas e repetições acima ou abaixo do recomendado, dentre outras situações podem causar lesões mais graves. Além disso, o aluno não terá em sua residência uma estrutura apropriada para execução dos exercícios”.
Para ele as aulas online podem distanciar o aluno da academia e desvalorizar o profissional de educação física. “As academias não são lugares onde as pessoas buscam apenas por estética. Hoje elas desempenham um papel de bem estar físico, psicológico e social para seus frequentadores. Consideramos as academias estabelecimentos de saúde e essencial para as pessoas”, conclui Hebert.
A Rock Your Life durante este período de isolamento desenvolve e disponibiliza vários trabalhos virtuais por meio do Facebook e Instagram. A academia também envia aulas e exercícios pelo WhatsAPP para os clientes. “Também criamos a ‘Paideia Digital’, um canal de podcasts e videocasts em que discutimos e informamos sobre os mais variados temas: saúde, defesa da Covid-19, além de comentários e debates sobre os mais variados temas”.
Na Esparta não eram ministradas aulas online antes da pandemia. O proprietário do estabelecimento informa que está começando a aplicar este método, através de vídeos, porém, segundo ele, as aulas são apenas para manter a interação com o aluno.
QUARENTENA
Os profissionais orientam que no período de quarentena as pessoas procurem fazer atividades simples como pedalar, caminhar, correr, conversar e valorizar o dia-a-dia com seus familiares, e principalmente se cuidarem e ajudar o próximo.
REABERTURA DO SETOR
Durante todo esse tempo de pandemia, médicos, pesquisadores, cientistas, evoluíram nas descobertas. Máscaras são fundamentais, higienização constante de ambientes, das mãos e de produtos também são extremamente importantes.
Em função disso, Guilherme Fonseca, fisioterapeuta, osteopata e educador físico, responsável pela Rock Your Life defende a flexibilização para abertura das academias, desde que todos mantenham esses cuidados obrigatórios e essenciais. “Com poucas pessoas no ambiente, distância de dois metros uma das outras, utilização de máscaras por todos e higienização constante dos equipamentos, talvez seja uma forma de evitarmos o colapso do nosso negócio que movimenta vários outros. É uma grande rede. E além do mais, preparo físico é fundamental para a saúde”.
Já Hebert Buffon diz que está seguindo todas as orientações do CREF4/SP (Conselho Regional de Educação Física da 4ª Região) que divulgou recentemente em sua página oficial, os procedimentos para reabertura das academias após os órgãos públicos autorizarem.
Rosânia Gonçalves já tem planos para o retorno das aulas. Segundo ela a academia vai atender com horário marcado e com poucos alunos por aula, seguindo todas as recomendações de higienização. “Se pudesse voltar, já estaríamos totalmente preparados”, diz.
Quando voltar às aulas e for liberado de forma gradual, Renan Demarque pretende reunir turmas de três a cinco clientes. Tomando, de acordo com ele, todos os cuidados necessários para não haver contaminação. “Vamos aferir a febre logo na entrada, o uso de máscaras e toalhas será obrigatório. Vamos disponibilizar o álcool em gel e pedir para que o cliente faça o uso na entrada e na saída. Também vamos limitar horário, com horas agendadas. Estamos pensando em restringir o uso do celular, já que o aparelho pode transmitir o coronavírus”, explica.
DEMISSÕES
Há 41 anos atuando em Adamantina, Rosânia Gonçalves diz que o atual cenário é completamente desconhecido. “Nunca passamos por nada parecido. Tenho sete funcionárias e em abril com as mensalidades pagas, dividi entre elas, e deixei de pagar algumas contas da academia, mas, se não voltarmos agora em maio, não vou conseguir pagar os meses seguintes”, lamenta.
“Poucos setores sofreram tanto com a pandemia quanto o mercado fitness. Só vamos conseguir mensurar o real impacto daqui a alguns meses, porém vimos nossas visitas à academia cair à zero. Tivemos cancelamentos e pausa de planos por parte dos alunos. Foi necessário realizar mudanças para reduzir custos, o que incluiu a decisão mais difícil: reduzir a nossa equipe e suspender contratos de trabalho”, lamenta Hebert.
MANUAL DE ORIENTAÇÕES
O CREF4/SP organizou um manual de orientações e procedimentos para as academias, após os órgãos públicos autorizarem a reabertura do segmento. Segundo o Conselho, todas as academias devem seguir procedimentos de segurança durante as quatro primeiras semanas. O objetivo é reduzir o risco de contaminação, pela Covid-19, dentro das unidades.
O material, segundo o Conselho, foi organizado seguindo as recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde) e do Ministério da Saúde para a prevenção do novo vírus, na sociedade como um todo.
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